Os abutres em bando
inumeráveis, inomináveis judasvendendo mentiras
pilatos lavando as mãos
talhando a lápide limpa
onde se enterra em chão pátrio
os vivos, já quase sombra.
Nos porões, são ratos mordendo
órbitas cansadas de choro,
vigias, olhando o céu ainda negro
aguardando as anunciadas manhãs
tão cantadas mas ainda não cumpridas.
Ladrões do tempo,
roubando o ar da garganta
do grito que se repete à exaustão
as insónias, as vidas em ausência
as distâncias que se somam.
Serão memórias as feições
e os gestos que se esfumam
até que cresça novamente em nós
a vontade, a esperança e a coragem.
Com as pedras do caminho
não castelos, construiremos pontes
entre as minhas mãos e as tuas.
Colheremos no fogo dos poentes
a luz para nos iluminar os dias
e faremos das noites, das estrelas
luzeiros, guias.
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