Tal como um membro amputado
a alma também sofre de dor fantasma.
Os olhos fecham mas não dormem
e não esquecem.
O cérebro é cão maldito, mal treinado
e uiva, toda a noite canta o caos.
As vozes que ainda chamam, lembram
batalhas travadas com desfechos iguais
e os segredos de guerra, a dor não partilhada
e só, ninando corpos já vagos.
Para salvaguarda dos que ficaram, além trincheira,
do 'porto de lúcifer' apenas seguiram
missivas breves e eufemismos ponderados
falados em voz de afago e prévia cura.
Na farmácia já não se vende o sulfamidas em pó
que sarava joelhos esfolados trepadores de árvores
e o sangue nas veias, os pulsos abertos
não se unem com pensos rápidos.
Existem feridas que serão sempre lume
mesmo que cauterizadas.
O tempo.
o tempo fala de cura
e da paz secreta guardada
na luz que a manhã espalha.
O bater das horas longas
onde aguarda já sem culpa o dia
reserva sempre a chegada
da primavera, a poesia.
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