Sophia foi coberta de esperança e sangue feitos bandeira e carregada em ombros.
Está entre os deuses e com todo o mérito, e o País esteve bem em lhe conceder a honra, que já lhe pertencia. Mas quereria Sophia ser um deles ou estar entre nós? Mortais que vivem, amam, sofrem, acertam e erram. Reais. Ainda que morta, junto à terra.
Está entre os deuses e com todo o mérito, e o País esteve bem em lhe conceder a honra, que já lhe pertencia. Mas quereria Sophia ser um deles ou estar entre nós? Mortais que vivem, amam, sofrem, acertam e erram. Reais. Ainda que morta, junto à terra.
Sophia cantou o mar, as flores, o amor, a terra inteira e para além dela o dia inicial justo e limpo. Amou o seu País, Pátria, como chão, como raíz, como gente.
Mas uma morada de pedra e silêncio onde nada cresce, para quem escutava o mar, os pássaros e o jardim não será presente envenenado? Ali não estão as quatro estações à sua porta nem sobre o seu corpo. Ali não sopra o vento, nem a maresia. Ali fala-se baixinho do passado e da morte. Sophia cantava a vida.
Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.
Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.
Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta."
Sophia mello breyner
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