sábado, 25 de janeiro de 2014

Númenes

A Musa, inspiração, Euterpe
segue como sombra junto a ti
desperta do seu sono em intervalos de insónia
obriga o sonho a regressar ao corpo
e descreve o nascer do sol e o aroma do café pela manhã.
Surge no elevador, no autocarro faz-te perder a paragem
senta-se a teu lado tamborilando os dedos na secretária
onde trabalhas. Percorre corredores, invade reuniões
e foge para longe, levando consigo o pensamento, a razão.
Impaciente, não sendo ainda o tempo,
a musa ajuda a sarar o insanável
a não esquecer de amar a tela de mil matizes, a vida
ainda que seja tormenta dolorosa
a realidade crua, cruel. aos olhos vivos
injusta, sempre sombras e luz.
A musa caminha contigo junto ao rio
e sibila ao ouvido os sons do mar próximo, as gaivotas.
A noite caí e Erato fala mais alto que a quietude que se alonga sobre tudo
e estende-se sobre a mesa ardendo em chama, entre os papéis.
A musa desperta a horas improprias e recomeça
a vida, segue-te dia a dia
os livros as letras. a poesia
sobe contigo a correr as escadas do metro da baixa
sempre avariadas
e surgindo do escuro, assomando-se
à claridade plena,
já sem folgo, arfante, sussurra:
escreve sobre esta luz cálida serena.


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