domingo, 17 de novembro de 2013

tordos

a luz sempre resta
se não a do dia,
à noite, a das estrelas.

a escrita é redonda
regressa às mesmas palavras
às memórias, rimas
ao sonho, delírio, querer
às vezes só desejo.
Tantas cores, o som e a sua ausência
a proximidade e a distância
hoje, amanhã e depois
ontem. sem tempo
tão perto e no entanto tão longe.
bebo da caneca lascada o último golo
dói-me a cabeça e os olhos são areia
roo os lápis de carvão.

tudo morre, como os tordos
que vi estrebucharem em agonia
na rede montada entre os canaviais.
soltei um a um,
pelo acto, levei um tiro de sal
ao qual lancei pedras e impropérios
hoje sinto a dor no joelho, viva
a memória é fantástica, selectiva
cruel e manipuladora.
passaram bem mais que vinte anos
voltava a soltar, todos
um a um
e traria comigo o pardal único,
de asa ferida
que aninhei no peito durante dias
para sarar. E sarou.

esta chama que me anima
este gosto à vida, tanto
sem remédio,
uma das minhas coisas favoritas.

* hoje perguntaram-me, em ingenuidade pueril, quais as minhas coisas preferidas.

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