terça-feira, 26 de novembro de 2013

Os monstros também falam de amor.
Batem do pescoço para baixo e as roupas esquecem, escondem, a casa, o corpo destruído ontem porque o jantar estava frio, estava quente, tinha sal a mais, sal a menos... Humilham. 'Não vales nada!'
Os monstros choram pela morte do seu cão.
Espancam, agridem verbalmente, emocionalmente, fisicamente. Pedem desculpa.
Sorriem para as fotos de família.
Levam os filhos à escola. Vão trabalhar. Saem com os amigos vestindo a camisa impecavelmente passada a ferro pelas mãos que ontem queimaram com a ponta do cigarro.
Os monstros são a inveja das mulheres que não vivem lá dentro de casa. Amáveis, cavalheiros.
Oferecem flores.
Os monstros não têm rosto, nome, idade, nem condição social definida. Controlam, manipulam, aterrorizam até vergar qualquer espécie de vontade, de resistência.
Dão morros no topo da cabeça e puxam cabelos. Pontapés mas só na barriga que o vestido cobre.
Não discutem. Ameaçam baixinho junto ao ouvido. 
Através das paredes finas, na casa da vizinha só se ouve a voz da mulher enquanto ainda grita.
"Entre marido e mulher não se mete a colher" e a vizinha, cúmplice no silêncio, cumprimenta pela manhã o vizinho que é sempre tão educado e lhe segura a porta para ela passar.
Porque os anos vão passando e as queixas na polícia são inexistentes é tarde, muitas vezes tarde de mais para aquela que sempre calou.
Os monstros também falam de amor, pedem desculpa, oferecem flores
e matam.

25 de Novembro - Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.

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