quarta-feira, 18 de setembro de 2013

longa a noite. (re)leio

o sono não vem.
chá, leite não.
trinta sóis se deitaram
trinta luas se ergueram, no céu
nem uma só linha desenho
tento materializar a beleza,
em minha mente, serrando os olhos,
pequenas flores, ondas, movimento.
Nada, papel branco.
"Espera-me uma insónia da largura dos astros "
Leio
Dobrado, um pequeno triângulo remata,
o canto inferior da página marcada.
Ao contrário de Campos escrevo de noite, mal
antes não escrevesse, talvez assim dormisse.
O sono não vem.
Escrevo, textos como este
e outros tantos que se baralham
não chegando a ser.
Pudesse eu agarrar o sol com ambas as mãos
para apresar a manhã.
"Esta é a madrugada que eu esperava"
Leio.
O sono adiado vem a noite desdobrando.
A impaciência tornada inquietação. Chá.
A insónia tem destas coisas deixa-nos os sentidos
embriagados, desembargados
a escrita insone apresenta-se nula como curativo
placebo, e no entanto escrevo.
A claridade trará consigo a razão
a luz do dia comendo palavras, aqui, além
censurará parte deste texto ou o seu todo
"dans les replis les plus caches comment le taire"
Leio.
Desta janela vejo a cidade, a ponte. Para lá do rio
as arribas, falta-me a terra aberta ao mar.
Não escrevo uma só palavra, mas todas
veias, rubro sangue, núcleo.
Da quietude interna
nasce a ânsia tomando forma
tomando o respirar. A vida
acesa em mim, quase chama.
Bach toca em fundo pequenas orações, a um deus inexistente,
sentidamente belas, o universo num violoncelo. 
O sono não vem.
Leio o que a serendipidade me trouxe.
Esta noite não dormirei
rendo-me à evidência
já quase não há noite que dormir
a inutilidade do sono quando o dia urge
Que horas são? 3,4... 6 ? Não quero saber
a inutilidade da hora quando o dia chama.
Aos primeiros raios da manhã beberei café,
duas colheres de açúcar.
A vida quer-se doce...

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