quinta-feira, 11 de abril de 2013

Tempo impróprio para falar de flores.
Num tempo que, de tão triste, é quase obsceno falar de felicidade, falar do belo, da delicadeza, das fragilidades. Do mar, do sol que tarda, da cidade que amanhece...
Sejamos teimosos e falemos de tudo isto e do mais que ilumina a alma.

Morreu ontem, entre as caixas registadoras e a fila de espera, uma mulher. Fulminante.
Apesar de todos os esforços para reanimar aquele corpo, já partira a alma que o habitava.
A morte passeia-se no mundo, entre nós, serenamente escolhendo, e há quem lhe facilite a função.
A austeridade ceifa efectivamente vidas. Não é estatística, são vidas!
Deixara de tomar a medicação. O coração desistiu.

Chorei aquela vida que não conheci. Praguejei baixinho chamando de tudo os culpados.
Choremos esta vida e todas as vidas. Choremos tudo.Todas as lágrimas, todas as raivas. Carreguemos esta profunda dor e que esta nos dê força e razão. Mas que esta cerração não nos tome o todo do peito, do coração.
Não esquecer que é nas raízes do que é bom que nasce a vontade, de superar, de vencer tudo de nefasto e vil que possa rondar o Ser.
Não esquecer que é pelo regresso dos sorrisos aos lábios que se travam as batalhas diárias.
Que é na vontade da retoma da vida que ganhamos força para enfrentar os dias duros.
Difícil!

Num tempo impróprio para falar de flores falemos também delas.
Da janela vejo a cerejeira já vestida de branco entre todo o verde que as chuvas alimentaram. Está linda!

Num tempo de trevas falemos de luz....


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