terça-feira, 2 de abril de 2013

Aperture

Hoje tenho cem anos.
O paredão ainda está vazio e sobre a praia deserta, são 8:00 da manhã, um céu azul.
Vim matar saudades.
 
O mar irado espumando verde, castanho e a areia negra dos detritos nela deitados, naufragados. Ramos, restos de esferovite, chinelos e garrafas de plástico.
Um bando de andorinhas-do-mar(?) faz rasantes às ondas junto à costa e lá longe onde os fundões formam remoinhos, aprisionando cardumes, gaivotas gritam bicando as águas.
Corta o horizonte um porta-contentores.
 
Que me perdoem os optimistas crónicos, que nasceram com sorrisos atarraxados ao rosto. Hoje mordo como cão velho. Porque hoje na paisagem, mais que a beleza do mar, salta-me aos olhos os detritos sobre a areia. Um caos de pós-guerra que a tempestade deixou.
O pó de alcatrão polido, batido pelas ondas, cobre com uma fina camada o areal, lembrando os tempos negros que este país (o meu país!) à beira mar plantado vive.
Só me pergunto se chegaremos lá vivos, seja 'lá' onde for. Se chegaremos vivos como povo, como pátria, como gente...
Falham as palavras todas e falham também os gestos, por insuficiência.
Sigo, só vendo o mar e o céu azul. Correndo. Inalando iodo.
Irei cansar este corpo até que durma.
Machine Head - Locust
P.S. (Post-scriptum) - quando já partia, no céu, sobre o mar, um arco-íris...

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