Mostram os dentes brilhantes, rindo.
E contam, como números, vidas
que vão arrancando pela raiz,
não serão rosas e não darão frutos.
Porque migalhas também são pão
e a fome do outro não dói em estômago cheio
a caridade é servida, ao almoço e ao jantar,
em cantina social.
---------------------------------------------------------
Refeitório dos Anjos, Cozinha Económica dos Anjos, Sopa dos Pobres, Sopa do Sidónio, Sopa do Barroso... muitos nomes para um só lugar. Uma enchente à porta. Conversam entre si, já se conhecem. Esperam. Está frio e a noite cai. Alguns copos de café na mão e beatas acesas nas bocas que não se vêem cobertas que estão pelas barbas fartas. Ao longo da rua um grupo, outro grupo, não estão à porta, estão como… por ali, encostados às paredes. Outros, tantos, vão chegando. A maioria homens. Sem faixa etária definida. Barbas feitas, outras por fazer, rostos resguardados em cascóis e gorros. Rostos pelos quais passei e que não irei conseguir recordar, de tantos que são.
-----------------------------------------------------------Mostram os dentes brilhantes, rindo,
batendo palmas à tragédia, qual teatro grego
e vão para casa leves,
que não lhes pesa a alma,
nem tampouco a falta dela.
O Homem é um animal político
Mas uns são mais animais que outros
e reduzem a mais nobre função a jogo de tabuleiro
zelando pelos interesses de alguns,
esquecendo o todo.
Reino mais animalesco que animal,
dentes, garras nascendo à raiz da carne vil.
Caninos. Destros. Má rês.
Lá vão, cantando e rindo.
Até quando?
Sem comentários:
Enviar um comentário