A casa que agora habito tem uma varanda com um parapeito onde nos podemos sentar. Pés em vão, não longe do telhado abaixo.
Dele se avista quase a cidade inteira.
Em noites claras o olhar acompanha a ponte e atravessa para a outra margem. E, ainda que longe, é possível ver o recortado da paisagem desenhada pelas luzes contra um céu azul meia-noite.
Hoje, a lua está alta e cheia. Brilha esplendida, mas não ofusca totalmente as estrelas. Posso contar constelações, ursa maior, cassiopeia, ursa menor....
Um gato atravessa a rua, nas horas mortas de carros, esquivo. Os cães ladram.
No poste, do passeio em frente, está empoleirada uma coruja, companheira quase habitual. Aprendi a gostar dela e já não me assustam, de mau agoiro, os seus sons. Já teve filhos e apanha ratos entre as silvas.
Hoje não há morcegos, só no verão. Pequeninos esvoaçando em círculo, caçando insectos cegos de encantos pela luz pública.
A aragem leve e fria que corre, traz a serenidade que do céu cai na noite pura. O frio queima o nariz e dói nos pulmões mas sabe tão bem no rosto.
O meu colo sente a falta do gato que escolheu ser meu por algum tempo.
Ninja, malabarista, acrobata. Um gato-cão que vinha ao nome, ao som da minha voz. Sombra de mim, que me esperava na janela. Nas horas de trabalho e de insónia pedia licença para se enroscar no meu colo.
Agora que já não está, sinto-lhe a falta.
Também ele gostava de se sentar no parapeito a olhar a linda paisagem nocturna.
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