Livros usados, conhecedores de outras mãos, de outras vidas. Dedicatórias, sublinhados e notas nas margens. Habitantes de outras estantes agora repousam numa banca de feira, aberta ao céu. A um canto, junto a um livro, um letreiro: "O Autor deste livro é o proprietário da banca".
Camponês, operário, escritor, alfarrabista. Por esta ordem. Acima de tudo "operário poeta".
De lá dos montes. Do tempo de fome, trabalho e miséria. Do tempo em que "o inferno durava tanto quanto o inverno de 6 meses". De serões longos, com castanhas, rocas de fiar e histórias e estórias ( a memória colectiva) contadas pelos mais velhos.
Vindo de trás-os-montes, Lisboa recebe um camponês de 17 anos reaccionário, católico conservador (por não saber melhor) que descobre "que o mundo era outro", que a vida podia ser muito mais que trabalho, terra e pão. "O despertar para a política através da poesia" saber que tinha obrigações mas também tinha direitos e que podia lutar por eles. "E lutei! Descobri que tinha em mim um revolucionário que queria um futuro melhor não só para mim mas para o meu País. Queria a liberdade!"
Outros (muitos) trabalhos, até que o "Glorioso 25 de Abril" o encontra já operário.
"Viver a vida para contá-la", a escrita real . "Toda a escrita, mesmo a ficcionada, é sempre autobiográfica. Tem sempre algo de autobiográfico e todas as personagens são o autor, mesmo as reais, são sempre a visão do autor."
Traz os livros, as letras, a poesia para a rua, para as feiras na sua banca. Tirando o frio, a chuva e os dias que se iniciam sempre ás 5 da manhã, carregando a carrinha , " Adoro! Isto é um espectáculo. Isto é a cultura viva"
Em todo o revolucionário existe um, possível, poeta ou todo o poeta é um, possível, revolucionário?
No mínimo, revolucionário das letras? E da vida?...
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